Arquivo | outubro 2015

Florestania e Cerradania

Contagem regressiva para mais uma expedição no vale, Vale do Guaporé ou Itenez para os povos Bolivianos.

Barco Hotel Rey na Pousada do Reanato ( Pimenteiras)

Barco Hotel Rey na Pousada do Renato (Pimenteiras)


Uma pausa nos trabalhos com a Cerradania, para mergulhar um pouco na origem da minha vida com a Florestania. Retorno com muita alegria a um dos locais mais fantásticos que pude desfrutar. Sou Matogrossense, legítimo guri das beiras do Rio Santana ( Nortelândia) que contribui com as águas do Rio Paraguai e segue rumo ao Pantanal. Bem próximo da minha casa o nascedouro do Rio Guaporé que segue o rumo da Amazônia, por Rondônia, e por este caminho eu trilhei parte da trajetória de minha carreira profissional. Nem muito distante seguindo algumas léguas e subindo a Chapada dos Guimarães nos deparamos com a exuberante natureza do cerrado. Onde tudo por lá é grandioso… To assim emocionado, pra reviver novamente, mesmo que por pouco tempo, a passagem de contribuição aos três biomas: Floresta Amazônia, Pantanal e Cerrado.
Costumo repetir que os rumos são traçados pelo norte e seguimos o destino reservado para ser vivido na intensidade do possível com as boas recordações do passado e um presente intenso de querer e ser feliz. Afinal, não existe distancia pra quem sabe remar, no remanso da travessia e seguindo o que o remo dá, enfrentando os desafios, mas firme seguindo o que foi reservado pra ser vivido.
Coisas de convivência com Renato da Pousada e do Barco Rey em Pimenteiras, incansável militante da preservação das espécies aquáticas do Rio Guaporé, Renato Pereira destaque na importância da fiscalização permanente na bacia hidrográfica do Rio Guaporé. Entre outras coisas, aprendi que sal e fósforo são suficientes pra sobreviver em uma pescaria dos ribeirinhos; podemos retirar iscas vivas de peixe, apenas usando fígado de peixe e um pedaçinho de linha; assisti ao espetáculo do ataque dos Botos com o Puraquê; apanhação de Açai, só de ver; sonhei com a festa do Boto Cor de Rosa e o Tucuxi; Escrevi algo sobre o canoeiro do Guaporé.
No norte, tudo é intenso sol, chuva, friagem e impressiona a simplicidade de vida dos ribeirinhos do vale. Não é possível descrever o quão belo é o passeio, diante de tanta beleza: pescar é bom, porem, apenas um detalhe para quem pode sintetizar na alma a emoção de estar por lá. Eu vou e volto pra contar um pouquinho mais dessa história, que não findará. Sem me importar se haverá interrupção, afinal a gota d’água do rio segue o seu rumo sem se importar com os obstáculos. E, se ocorrer interrupção, vou me lembrar que percorri muitos caminhos e que lindos caminhos.
Um pouquinho do Rio Guaporé
Nasce no Mato Grosso, na Serra dos Parecis, no Estado de Rondônia o rio Guaporé é um dos locais mais bonitos e piscosos da região Norte do País. Tem cerca de 1400 quilômetros de extensão. Na maior parte de seu percurso funciona como linha divisória entre o Brasil e a Bolívia, e deságua no rio Mamoré.
Zona de transição natural entre as bacias do Prata e Amazônica, com a existência de um ecossistema extremamente rico. Composto por igarapés, matas densas e uma série de baías, que fornecem condições formidáveis para o desenvolvimento da vida nas mais diversas formas.
A pescaria pode ser feita a partir de pousadas ou barcos-hotel que saem desses municípios rumo a cenários espetaculares. É perceptivo a diferença do nível de preservação entre as duas margens do rio. No lado boliviano, a existência do Parque Noel Koempf Mercado que garante paisagens intocadas e afluentes piscosos, como o rio Verde. As cheias, por exemplo, são a época boa para pescar a corvina e o apapá (peixe-novo) é uma das belas espécies de escama dos rios brasileiros. Apesar de demonstrar grande agressividade no ataque a iscas naturais e artificiais, é um desafio mantê-lo fisgado no anzol, devido à dureza de sua boca.
Durante a seca, chama atenção a abundância de tucunarés nas baías e remansos do rio. Sem exagero, quando as águas estão baixas, é possível capturar num único dia centenas de tucunarés-pitanga, chamados de amarelinhos, pinimas ou popócas.
Além disso, o Guaporé é um dos poucos rios brasileiros que ainda abrigam grandes tambaquis e pirapitingas. Uma das iscas mais bem cotadas para atrair esses peixes redondos é o minhocuçú.
Iniciaremos o trajeto no Barco Hotel Rey a partir da pousada do Renato, na histórica região do Santa Cruz (Pimenteiras) com destino a Laranjeiras. Tudo encanta e sopra o pequeno canto de desfrutar da beleza impar do Vale que vale muito mais que um rio um complexo de cultura e beleza natural do Guaporé. Assim, gosto de narrar esse universo:
Oh, luz do luar me leva contigo pra passear. Oh, raio de sol aquece meu corpo e também e o meu coração. Minha rua é meu rio,o meu carro o batelão, o meu boto tucuxi, minha estrela. Minha rua é meu rio,o meu carro o batelão, o meu boto cor-de-rosa, meu amor minha paixão.

AÇUCAR DE RAIZ

Era começo de tarde, avistar a casa de chico em meio ao capão de mata ao lado do riacho trouxe alívio e certeza de que o oco no estômago seria logo tapado. Devido ao adiantado da hora, o almoço teve sabor ajantarado, deixando um rastro de preguiça gostosa, que acabou por me levar à espaçosa varanda rodeada de árvores em busca de um canto para merecido cochilo. esparramado, chico, na rede já sem as botinas caçando o frescor da tarde, mas este sossego não dilatou muito, pois logo deu de alguém bater palmas em busca dos remédios e conselhos dispensados de maneira generosa pelo anfitrião.
Uma moçoila nomeada Jerusa, tava de reclames de perebas e espinhas muitas, que explodiam em seu corpo roliço de adolescente. Aborrecida, ela mostrava as cicatrizes e as pequenas pústulas espalhadas principalmente no rosto, nas costas e no peito. Chico ouviu tudo pacientemente e depois de listar alguns alimentos “remosos” a serem evitados, pediu e ela para voltar daí a três dias, tempo de preparo do “Açúcar de Raiz”. Fiquei por ali oferecido, procurando acompanhar os ditames de tão refinado remédio, demorado mais de dia prá se achar acabado.
Chico deu ponto de dar início ao trabalho imediatamente e daí me grudei, sem larga nenhuma. Depois de consultar seu estoque de plantas, ele colocou em riba da mesa vários potes, sacos e amarrados, dando começo pelas cascas do Mulungu, seguida das folhas de Bobenta, entrecascas de Mangaba, raiz de Carobinha, Canela de Perdiz, Algodãozinho do Campo, finalizando com a raiz do Inharé cheiroso.
__Tem de ponhá sempre pranta em número ímpar, tendeu? Ele me perguntou enquanto conferia cada uma delas já bem picadas e secas, tudo muito bem arrumado. Uma a uma foram medidas de maneira uniforme e depois colocadas de molho na água, deixando de um dia para outro. Aquilo tava me parecendo um encanto, mas com as franjas do horizonte já tingidas de fogo, demos por encerrado o dia de trabalho.
Dia seguinte bem cedo, enquanto eu levava para ferver todas as plantas num tacho com água, ele saiu em busca de uma rapadura na casa de cumpadre Leocádio, distante pouco menos de uma légua. De volta, Chico foi raspando a tal, dando-lhe jeito de farofa. Com a atenção no tacho, passei o cozido num pano fino e medi o apurado. Voltamos essa calda para o tacho, juntando a mesma quantidade da farofa de rapadura, formando um melado, que ficou no fogo até chegar no ponto de doce seco. A partir desse ponto, batemos por uns cinco minutos, descansamos outros cinco, seguindo nessa lida até o açúcar voltar a se formar no tacho. Finalmente tava pronto o remédio!
__Deu trabaio, mas Jerusa há de se curá daquelas feiúras.
Concordei com tudo enquanto anotava os procedimentos, que agora passo prá frente. Inté a próxima lua!

Todo Caminho

Um pouquinho de reflexão, no que escreveu João…

Todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!… O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, E ainda mais alegre no meio da tristeza…

http://www.mensagenscomamor.com/poemas-e-poesias/poemas_de_guimaraes_rosa.htm

Perfil ecossistêmico para a conservação do Cerrado

Após realizar consultas públicas com diversos atores do setor empresarial, governo, academia e sociedade civil, ao longo do ano, o diagnóstico de perfil ecossistêmico do Cerrado e as diretrizes estratégicas para manter a diversidade biológica e social da região foram apresentados no ultimo dia 15, durante oficina em Brasília-DF.
A intenção, segundo os organizadores do evento, foi mostrar a versão preliminar do documento em construção e recolher propostas e contribuições dos participantes.

Cerrado- foto arquivo

Cerrado- foto arquivo


Esta é a primeira fase de um projeto que visa investir em ações de conservação do Cerrado, com ênfase no fortalecimento da sociedade civil nos próximos cinco anos. Esta etapa está sendo conduzida pelas instituições Conservação Internacional Brasil (CI-Brasil) e o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), sob o financiamento do Fundo de Parceria de Ecossistemas Críticos (CEPF, a sigla em inglês).
Para Kolbe Soares, analista de conservação do Programa Cerrado Pantanal que representou o WWF-Brasil no evento, “o diagnóstico construído em conjunto com as organizações trouxe informações bastante relevantes em relação à identificação de áreas prioritárias no bioma para investimentos que serão proporcionados pelo CEPF nos próximos quatro anos”. Além disso, Kolbe considera que “os investimentos na conservação do Cerrado proporcionados pelo Fundo, poderão alavancar outros tipos de apoio e chamar a atenção da sociedade brasileira para a realidade preocupante que se encontra o Cerrado”.
O documento levou em consideração três critérios – grau de ameaça, existência de Planos de Ação Nacionais (PAN) e importância relativa do hotspot para a conservação da espécie – e com base nisso identificou que o bioma tem 1.270 áreas-chaves para a conservação, sendo que 218 são criticamente ameaçadas e, destas, apenas 12 tem PANs.
Para chegar a este resultado as consultas públicas analisaram aspectos políticos, socioeconômicos, de mudanças climáticas, importância biológica, serviços ecossistêmicos e conservação. Estas temáticas foram consolidadas com base na compilação de dados disponíveis para o bioma, tais como estudos, artigos, teses, livros, dentre outros. Uma das dificuldades encontradas diz respeito à falta de dados atuais sobre o monitoramento do desmatamento no Cerrado, já que as últimas informações são de 2009.
De acordo com Ana Cristina Fialho de Barros, secretária de biodiversidade e florestas do Ministério do Meio Ambiente (SBF/MMA), “a iniciativa é muito bem-vinda pelo órgão, até mesmo porque considerou planejamentos e estudos que tiveram nossa contribuição. A proposta que está sendo apresentada dá um contexto amplo, que dialoga muito com o que está sendo feito pela secretaria”.
O estudo deve ser finalizado e aprovado pelo conselho de doadores do CEPF até o final de 2015, em seguida abre-se a possibilidade de apoio para projetos de conservação no bioma no período de 2016 a 2020.
Sobre o CEPF
Criado em 2000, o CEPF atua em 23 hotspot – área prioritária para a conservação –, em 89 países. Ao todo o Fundo já investiu 175 milhões de dólares nessas regiões, beneficiando 1,9 mil entidades da sociedade civil.
No Brasil, o CEPF está presente desde 2002, mas inicialmente com foco no bioma Mata Atlântica. Até 2011 foram 300 projetos apoiados à ONGs, comunidades e pequenas empresas, que desenvolvem trabalho com espécies, áreas protegidas e paisagens (conjuntos de corredores de conservação). Atualmente reúne sete doadores internacionais e pelos próximos cinco anos deverá aprovar um montante para investimento no Cerrado para garantir a proteção social e biológica do bioma.
noticia veiculada em http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/cerrado/noticias

Os monumentos ecológicos na Chapada dos Guimarães

Um registro muito interessante da riqueza da nossa biodiversdidade.
Em Chapada dos Guimarães, a situação natural presente, é o resultado de uma interação de fatores, sendo que o ” status ” da fauna, depende de atributos geomorfológicos, climáticos, hídricos, edafológicos e vegetacionais.
chapada dos guimarães
A ocupação desordenada feita por atividades agropastoris e mesmo a crescente visitação turística, estão modificando drasticamente os habitats naturais e provocando um declínio acentuado da diversidade biológica.
No entanto,é de fundamental importância que somente em condições ecológicas, com a aplicação de técnicas de ocupação racional adequada à cada tipo característico de ambiente será possível entender o significado evolutivo e adaptativo da fauna silvestre e do ambiente que lhe dá suporte.
METODOLOGIA
A equipe de fauna visitou 13 dos 23 pontos denominados como ” Monumentos Ecológicos” entre eles: Córrego dos Médicos, Cachoeiras do Córrego Independência, Casa de Pedra, Atmã, Buriti, Monjolo dos Padres, Salgadeira, Aricá-Açu, Refúgio de Fauna, Aroê-Jari, Cambambe, Jamacá.
Devido ao curto tempo de permanência em cada um destes pontos, foi necessário adotar uma metodologia adequada e que fosse a mais eficiente possível para obter informações sobre a fauna de cada um dos pontos. Foi elaborado um questionário para ser aplicado aos moradores residentes nas proximidades dos locais a serem caracterizados, com a finalidade de levantar o máximo de informações possíveis.
Adotou-se como metodologia formas diretas e indiretas de observações feitas pela equipe. Para isso, foram traçados transectos aleatórios que procuraram cobrir a maior parte possível das áreas em estudo, seguindo as mais diversas direções. Durante o percurso, a avifauna foi observada e identificada ” in loco ” segundo FRISH (1981) e DUNNING (1882). Para mamíferos as observações tornaram-se mais difíceis, uma vez que a maioria deles possuem hábitos discretos, tendo atividades crepusculares e noturnos, no entanto, os rastros, pegadas e fezes podem fornecer uma identificação muitas vezes até mesmo a nível de espécie. Para auxiliar a identificação dos mamíferos em campo utilizou-se um guia de pegadas BECKER & DALPONTE.
Após os trabalhos efetuados em campo, foram elaboradas as tabelas quais contém informações sobre a fauna de Chapada dos Guimarães, agrupadas por monumentos ecológicos (áreas especificamente caracterizadas) e também por influências fitosionomicas.
RESULTADOS
Os resultados gerais estão apresentados, onde as espécies observadas são descritas por Monumentos Ecológicos e tipos de ambientes.
Muitas espécies existentes na região da Chapada dos Guimarães estão ameaçadas, inclusive, que restringe e até mesmo proíbe a comercialização e limita o tráfico de peles e animais vivos. Entre estes animais, o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) que ocupa os cerrados onde contém áreas com elevadas concentrações de cupins; certamente, as populações encontram-se em decadência, pois apesar de terem hábitos noturnos, raramente são observados no ambiente de forma direta, mas com comprovação de sua ocorrência, pois seus rastros geralmente são visualizados. Outro animal da classe Edentata, ameaçado de extinção, é o tatu-canastra (Priodontes maximus), que habita áreas florestadas e de mata ciliar, sua presença não é comprovada de forma direta mas há indícios de ocorrência ao sul de Chapada dos Guimarães em direção às florestas de transição na morraria de São Vicente.
O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), apesar de ter a população aparentemente maior que a do tamanduá-bandeira, é um animal de difícil visualização, mas de ocorrência comprovada em áreas de significativa importância, tal como a fazenda Buriti. É um animal considerado de topo de cadeia alimentar, necessitando de extensas áreas de cerrado para a alimentação, e mata de galeria para abrigar-se durante o dia, uma vez que possuem hábitos predominantemente crepusculares e noturnos. Raríssima de ser observada, a lontra (Luta Longicaldis) é muito exigente em relação ao seu habitat, não tolerando muitos distúrbios ambientais. Sua ocorrência poderá ser comprovada na região das cabeceiras do rio Aricá-Açu.
Certamente, os grandes felinos, são os animais que mais vem sofrendo com ação antrópica, seja pela ocupação indevida das áreas de preferência destes animais, ou pela atividade de caça que cada vez mais ameaça às devidas populações. A onça parda (Felis concolor) e a pintada (Pantera onça) possuem populações pequenas, seriamente ameaçadas de extinção, ocorrendo em áreas ainda intocadas, protegidas, contendo matas de galeria. A jaguatirica ( Felis pardalis), de hábito predominantemente noturno, encontra-se em vias de desaparecimento; muitas peles de pequenos gatos também vem sendo encontradas, como o mourisco (Felis yaguarundi), de hábitos diurnos, o maracajá (Felis weidii) de hábitos noturnos, demonstrando que sofrem uma pressão significativa de caça.
Ainda em vias de desaparecimento, em Chapada dos Guimarães, está o veado campeiro, (Ozotecerus bezoaticus) que, vivendo em áreas de cerrado aberto e veredas, são ativamente caçados com o auxílio de cães.
Quando a avifauna, não há quem não fique extasiado quando, apreciando a cachoeira Véu de Noiva, nas bordas dos paredões, um casal de araras vermelhas (Ara clorotera) passa vocalizando sob nossas cabeças. Para uma melhor preservação desta espécie, devem ser efetuados estudos para definir o local de forrageamento e uma racionalização quanto ao processo de ocupação das matas. Outras aves, encontradas na região: são o gavião-real (Harpia harpyjia), o Mutum (Crapias fasciolata), a jacutinga (pipili) e o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus).
Os principais representantes do grupo de Répteis existentes na Chapada dos Guimarães, não foram feitos por levantamentos específicos para répteis, as informações obtidas baseou-se em referências bibliográficas e comunicações pessoais.
Quanto a ictiofauna, levantamentos efetuados por MACHADO, principalmente nas cabeceiras do Rio Claro e Mutuca. Foi observado uma espécie nova de Leporinus dentre as coletadas e também, uma ocorrência difícil de explicar do gênero, Pseudo cetopsis, pertencente à família cetopsidal.
FAUNA
CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA NA CHAPADA DOS GUIMARÃES. Tornou-se inviável um levantamento fidedígno, já que esta área de pesquisa diferencia-se das demais pelo fato destes espécimes possuírem grande deslocamentos. Para uma avaliação faunística dentro do projeto, seriam necessário no mínimo dois anos de observação para uma conclusão aceitável no meio científico.
Diante destes fatos, tornou-se mais coerente uma revisão, Bibliográfica, e foi possível compilar informações a respeito da fauna local. Corroborando estes dados estão as informações dos moradores e freqüentadores locais.
FAUNA DA CHAPADA DOS GUIMARÃES
A fauna da região da Chapada dos Guimarães constitui-se de elementos provenientes da região Amazônica e das áreas abertas que cercam, os cerrados. Essa região é um dos refúgios pleistôcenicos do Brasil segundo Hafer 1967, tendo por isso, importante valor zoogeográfico.
A fauna invertebrada (que compõe bem mais de 90% das espécies animais) tem uma grande tendência de acompanhar os vegetais, dos quais ele depende dos seus alimentos muito específicos, na sua riqueza e abundância. Assim, não é de estranhar que a variedade de invertebrados, especialmente insetos na Chapada de Guimarães é mais rico de que em qualquer outra região neotropical. Em certas épocas menos chuvosas do ano a abundância de insetos e especialmente lepdópteros, é tanta, e sua sede é de tal forma, que chegam a formar verdadeiras pilhas acima de qualquer fonte de umidade, como estrume fresco de vaca; algumas espécies de lepdópteros diurnos ou crepusculares, maiores e muito coloridas, são freqüentemente encontradas no chão dentro da floresta, onde pousam durante horas sugar a umidade das fezes humanas ou caninas.
Mais interessante ainda é o fato que esta riqueza é composta de mistura da fauna vinda dos quatros lados da Chapada: das bacias do Rio Amazonas e do Rio Paraguai, dos Andes da Bolívia e do Peru, a da Mata Atlântica Brasileira, através da Chapada Goiana. Assim, forma-se uma zona de transição e polimorfismo que participa dos caracteres zoogeográficos das regiões faunísticas adjacentes, constituindo-se um verdadeiro laboratório contemporâneo de mistura e evolução de espécies e formas. Os estudos genéticos que poderiam ser visualizados dentro de populações polimórficas na Chapada, como por exemplo a do lepdóptero Mechanitis Lysemia que já recebeu o nome de connectens, simbolizando a posição intermediária da população), são quase infinitas e de grande significação evolucionária.
Do mesmo modo, os vertebrados na Chapada são excepcionalmente abundantes e variados. Aves de tamanho médio e grande, inclusive emas, seriemas, gaviões, pica-paus grandes, tucanos e garças, são freqüentemente vistos, e espécies, muito perseguidas em outros lugares como perdizes, mutuns, araras, papaguaios-amazonas, jacus e urus, inhanbus, juritis e outras pombas, fringilídeos cantadores como curiós e bicudos, ainda habitam as matas da Chapadas em quantidade. Uma profusão de plantas e de invertebrados certamente contribui para esta abundância de aves insetívoras ou frugívoras; a cadeia natural de alimento e predação estende-se faz inevitavelmente para cima, nos animais mais evoluídos.
Entre os mamíferos comuns na Chapada, sente – se uma falta em macacos (apenas mico e macacos pregos são mais freqüentes); jacarés e onças grandes são infreqüentes hoje em dia. Isto seria esperado numa região biogeográfica.
É de interesse acrescentar que tanto a Serra dos Parecis ao Noroeste da Chapada, como a Serra do Roncador, parecem ser muito pobres em animais e plantas com relação á Chapada dos Guimarães. As razões para este contrastes são desconhecidas. Porém é fácil de verificar que nestas serras faltam regiões acidentadas extensas que são principalmente em mata, como a bacia da cabeceira do Rio Coxipó. Das 100 espécies de mamíferos descritos para o cerrado (Fonseca e Redford, 1986), 41 são roedores, 21 de carnívoros, 13 de marsupiais, 06 de primatas 01 de lagomorfos e 01 de perissodáctilos, agrupados em 67 gêneros.
Espécies mais representativas de ocorrência comprovada na área de Chapada dos Guimarães.
ESPÉCIES NOME VULGAR
Didelphis abbiventris Gambá – de orelha branca Didelphis marsupialis Gambá – de orelha preta Philander opussum Cuíca verdadeira Agouti paca Paca Dasyprocta sp Cutia Cavia aperea Preá Hidrochaeris hydrochaeris Capivara Coendou prehensilis Ouriço caxeiro Cerdocyon thous Cachorro do mato comum Chrysocon brachyurus Lobo guará Felis pardalis Jaguatirica Felis yagouroudi Gato maurisco Felis sp Gato do mato Eira barbara Irara Gallictis cuja Furão Nasua nasua Quati Procyon cancrívorus Guaxim Felis Weidi Maracajá Priodontes Maximus Tatu Canastra Dasypus Novencinctus Tatu Galinha Euphractus sexcinctus Tatu peludo Tamanduá tetradactyla Tamanduá mirim Mymecophaga tridactyla Tamanduá – Bandeira Tapirus terrestris Anta Mazama gouazoubira Veado – Catingueiro Mazama sp Veado Tayassu tajacu Cateto Alouatta caraya Bugio preto Cebus apelha Macaco – prego Cellithrix argentada Sagui Felis concolor Onça parda Panthera onca Onça pintada Lutra sp Lontra Ozotocerus bezoarticus Veado-Campineiro Duscyon vetulus Rapozinha
AVIFAUNA
Das 24 ordens registradas no território brasileiro, 20 estão presentes na área de influência direta e compreendem 45 famílias e 220 espécies. Listagem das espécies mais representativas na área de Chapada dos Guimarães. ESPÉCIES NOME VULGAR
Rhea americana Ema Pipile pipile Jacutinga Tinamus major Inhambu Crypturellus undulatus Jaó Rhnchotus rufescens Perdiz Nothura marculosa Codorna Podilymbus podiceps Mergulhão Phalacrocorar olivacens Biguá Ardea alba Garça branca grande Egretta thula Garça branca pequena Bulbulcus íbis Garça vaqueira Pipheroiéis pileatus Garça real Tigrisoma lineatum Saco boi Euxenura maguari Maguari Cairina moschata Pato do mato Coragyps atratus Urubu comum Cathartes aura Urubu de cabeça vermelha Buteo albicaudatus Gavião de rabo branco Buteo swainsoni Gavião para gafanhoto Buteo magnirostris Gavião carijó Aeterospizias meridionalis Gavião cabloco Harpia haryja Gavião real Milvago chimachima Carrapateiro Polyborus plancus Caracará Crax fasciolata Mutum de penacho Aramus guarauna Carão Carima cristata Seriema Columba spp Pomba Columbina spp Rolinha Scardafella squammata Fogo apagou Ara ararauna Arara canindé Ara macão Arara vermelha amarela Ara chloroptera Arara vermelha verde Ara maracana Maracanã Brotogeris versicolorus Periquito Pionus maximiliani Maritaca Amazona aestiva Papagaio verdadeiro Amazona amazonica Papagaio Crotophaga ani Anu preto Athene cunicularia Coruja buraqueira Otus spp Corujinha Ceryle torquata Martin pescador grande Chloroceryle amazona Martins pescador verde Ramphastos toco Tucano Furnaruis rufus João de barro Cynocorax cyanomelas Gralha Spizaetus oornatus Gavião de penacho
PEIXE – Sendo o especialista Dr. Garavelho, Júlio Cesar os peixes da região são todos Osteichthyes, podem ser agrupados em quatro ordens Characiformes, Siluriformes, Perciformes e Symbranchiformes. A maioria dos Characiformes são Characidal, com mais de 70 % das espécies de difícil indentificação. Os Siluriformes estão representados, basicamente por 04 famílias com 01 a 03 espécies de genêros distintos, Devendo ressaltar a familia Cetopsidae, onde o Pseudocetopsis representado deve ser nova, além de uma ocorrência difícil de explicar, perciformes é representada por uma única espécie de Cichlidae do gênero Crenicichla, bastante próxiam a C. Vittata, Symbranchiforme é representado Symbranchidae Symbranchus, bastante diferente de S.marmoratus.
Dentre as espécies de importância econômica destacam -se o Pacu (Colossoma mitrei) Surubins (Pseudoplatystoma corruscans e P.fasciatum) Dourado ( Salminus maxillosus) Curimbatá (Prochilodus lineatus), Barbado (Pinirampus pirinanpu) e a Piava (Leoporinus sp).
RÉPTEIS – Na região de Chapada concorrem principalmente:
Chelonia
Testudinidae é frequente nesta família encontrar os jabotis: Geochilona carbonaria.
Gekkonidae – é encontrada em casas e taperas abandonadas, muito frequentes á noite.
Iguanidae – da fauna herpetológica de cerrados os iguanídeos tem se destacado com altas ocorrências, cabendo a supremacia dos tropidurus.
Nas matas de galeria, ou próximo aos cursos de água, o Iguana iguana é o grande representante desta familia, além de Hoplacercus spinosos e Anoles sp.
Sincidae – ainda em áreas sombreadas encontra-se os Mabuya sp. 1.5 – Teidae – dos lagartos terrestres, estes interessantes fossadores são vistos com frequência, principalmente em clareiras onde a espécies Ameiva ameiva é bastante encontrada em áreas de transição com vegetação mais densa. Representantes de Cnemidophorus sp ai também são encontrados. Há ainda, possibilidades de encontrar os Kentropyx em clareiras abertas nas matas ciliares. Os grandes teídos fazem – se presentes com Tupinambis teguxins e Tupinanbis nigropunctatus.
OFÍDIOS:
A fauna ofídica está representada por vários exemplares de Crotalus durissum terrificus e, vale afirmar, que a ocupação maciça do cerrado com exploração agricola tem funcionada como agente concentrador destes importantes Crotalídeos; no que diz respeito a herpetofauna botópica como: Brotops jararacussu, B. neuwiedi matogrossense, B.Atrox já os boideos são representados pelas Eunectes nolarces com grande ocorrência, e mais esporadicamento, E.Murrinus. O gênero Boa é marcado principalmente pela presença de Boa constrictor, sendo observado muito raramente. Boa constrictor amarali, a Salamdra Epicrates cenochria, cobra de grande beleza.
RESULTADOS
Os resultados gerais são classificadas por monumentos ecológicos e tipos de ambientes, sendo consideradas as características fitofisionômicas de casa área visitada, acompanhando assim o levantamento florístico executado por outra equipe, neste mesmo projeto.
Pede-se observar, de modo geral, que a variedade de animais se encontra diretamente ligada á diversidade de ambientes que existe em cada localidade estudada, e à ação antrópica que as áreas vêm sofrendo.
Muitas espécies existentes na região da Chapada dos Guimarães estão ameaçadas e, inclusive, citadas nos apêndices do Cites, que restringe e até mesmo proíbe a comercialização e o tráfico de peles e animais vivos. Entre estes animais, podemos comecar citando o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) que ocupa os cerrados, onde há elevadas concentrações de cupins; certamente, as populações encontram-se em decadência, pois apesar de terem hábitos noturnos, raramente são observadas no ambiente de forma direta, mas comprova-se sua ocorrência através de rastos geralmente visualizados. Outro animal da classe edentada ameaçada de extinção, é o tatu-canastra (Priodontes maximus), que habita áreas florestadas e de mata ciliar; sua presença é deduzida por indícios encontrados ao sul de Chapada dos Guimarães em direção às florestas de transição na morraria de São Vicente.
O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), apesar de ter a população aparentemente maior que a do taundúa-bandeira, é um animal de diícil visualização, mas de ocorrência comprovada em áreas de significativa importância ,tal como a fazenda Buriti. É um animal considerado de topo de cadeia alimentar, necessitando extensas áreas de cerrado para a alimentação, e mata de galeria para abrigar-se durante o dia, uma vez que possui hábitos predominantemente crepusculares e noturnos.
Raríssima de ser observada, a lontra (Lutra Longicaudis) é muito exigente em relação ao seu habitat, não tolerando muitos disturbios ambientais. Sua ocorrência poderá ser comprovada na região das cabeceiras do rio Aricá-Açu.
Certamente, os grandes felinos são os animais que mais vêm sofrendo com a ação antrópica, seja pela ocupação indevida das áreas de preferência destes animais seja atividade de caça que cada vez mais ameaça essas populações. A onça-parda (Felis concolor) e a pintada (Panthera onca)possuem populações pequenas, seriamente ameaçadas de extinção, ocorrendo em áreas ainda intocadas, protegidas, contendo matas de galeria. A Jaguatirica (Felis pardalis), de hábito predominantemente noturno, encontra-se em vias de desaparecimento;muitas peles de pequenes gatos também vêm sendo encontradas, como o morisco ` (Felis yagouaroundi),de hábitos diurnos o maracajá (Felis weidii) de hábitos noturnos, demonstrando que sofrem uma pressão significativa de caça.
Ainda p em vias de desaparecimento está o veado-campeiro (Ozoteceras bezoaticus)que, vivendo em areas de cerrado aberto e veredas, é ativamente caçado com o auxílio de cães. Quando à avifauna, não há quem não fique extasiado quando, apreciando a cachoeira Véu de Noiva, um dos pontos turísticos mais procurados em Chapada dos Guimarães, ou ainda nas bordas dos paredões e até mesmo sobrevoando os céus da pequena cidade, um casal de araras vermelhas (Arachoroptera) passa vocalizando sob nossos cabeças. Estas aves apesar de utilizarem frestas que são praticamente inacessíveis a predadores nas encostas dos paredões, para fazerem suas posturas, utilizam as florestas para obterem alimento. Para uma melhor preservação desta espécie, deem ser efetuados estudos para definir os locais de forrageamento e uma racionalização quanto ao processo de ocupação das matas. Outras aves de significativa importância , encontradas na região que abrage os monumentos ecológicos propostos para serem caracterizados neste projeto, são: gavião-real (Harpia harpyja), o mutum (Grax fasciolata), a jacutinga (Pipile pipili) e o gavião-de-penhaço (Spizaetus ornatus).
Os principais representantes do grupo de répteis existentes na Chapada dos Guimarães, são apresentados na Tabela 4. Como não forão feitos levantamento específicos para répteis, as informações obtidas basearam-se em referências bibliográficas e comunicações pessoais
Quando a ictiofauna, levantamentos realizados durante o projeto de pesquisa ecolólica na região do Polonoroeste, efetuados por F. Machado, principalmente nas cabeceiras dos rios Claro e Mutuca. Foi observada uma espécie nova de Leporinus dentre as coletadas e também uma ocorrência difícil de explicar do gênero Pseudocetopsis pertencente á familia Cetopsidae.
baseado no trabalho de CLAUDIA TASSO CALIL – CUIABÁ MT.
Relatório que contou com a colaboração de JÚLIO DALPONTE ( Biologia-FEMA), ROSÂNGELA E JERRY (estagiários da UFMT).

Uma tal de Pustemeira

No sertão do Gerais, nas terras de São João da Chapada, lugarejo dos mais altos localizado na região de Diamantina, alcançando quase mil e quinhentos metros de altitude. Lá entra um vento constante soprando por riba da chapada e o que se vê ao derredor são campos baixios, repletos de capins entremeados de inúmeras espécies medicinais bem específicas deste ambiente.
Uma delas chama deveras a atenção, a Pustemeira (Gomphrena sp), pequena erva dotada de folhas e frutos recobertos por pelos dourados, que esconde raiz semelhante a uma diminuta cabeça de alho. Na região é planta afamada e todos na prosa sobre suas qualidades e utilidades são unânimes em afirmar que “é um santo remédio, pois cura de mamando a caducando” ao capinzal que medra por todo lado, tem indicações certeiras para o chá preparado com suas raízes machucadas e mergulhadas na água fervente.

Raiz  da Pustemeira (Gomphrena sp)

Raiz da Pustemeira (Gomphrena sp)


“prus caso de gripe, inflamação dos peito e bronquite ele é bão misturado com melado. Inté aquela dorada na barriga sem muito cabimento, inframação dos rins e reumatismo ela cura. Isso é trem que vem dos antigos, mas é priciso tomá de cuidado, pois ela é planta quente. Porisso o bão é tomar o chá dela mais prá morno, senão pode se armar um suadô dismisurado e se o vivente dá o azar de toma um vento, mermo que seja disfarçado, atrapaia. Aquilo pode inté virar a cara do doente, fica um desmazelo. Tem vez que é bão misturá ele com o Canguçú, que tb é quente. Mas se o caso é de alergia, a mistura com o Velame é mió, pois que ele é frio”.
Num pode tomar desaxegerado e tem ainda de se lembrar que na gripe ele é adoçado e nos casos de tratamento dos rins é tomado sem doce. Pois essa santa planta alivrou mulheres de um cisto nos úteros, que já tava inté comprovado nos exame. Bastou dar de tomar o chá aos tiquins e nuns poucos dias ela tornou fazer aquela examaida e o tal cisto tinha-se desaparecido.
Segundo Sinha Dona __ Eu sentia uma dorada no pé da barriga, parecia inté que minha bexiga lá ia se soltando. Dona Dica ensinou a tomar esse chá de Pustemeira e num se deu duas semanas prá aquilo tudo sumir prá lá. Nunca mais! Lá nos Macacos, um povoado aqui perto, o povo põe ela na pinga para tratar de reumatismo e dor nas juntas.
Pois é assim, quando penso que tudo conheço e já sei, me aparece uma novidade das mais especiais e só me resta agradecer e entender que nada sei.
Inté a próxima lua!

baseado no http://www.naturezadosertao.com.br/

Um cerradense chamado João

Foi lendo, relendo, apreciando, citando, enaltecendo – o joão – que pude compreender um pouquinho do ser cerradense que descreveu em suas obras o valor do cerrado em sua estrutura nativa, que o ser cidadão insiste em desprezar, por isso a repetição de que temos que viver a cerradania. O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo, e poucos autores nacionais mostram maior orgulho disto do que João Guimarães Rosa. Em toda sua obra, espaços se abrem para devaneios do autor perante a exuberância ilimitada da Natureza à sua volta, no caso a flora e a fauna do Cerrado brasileiro, onde se desdobram seus escritos.

João

João


Além da paixão pelos seus habitantes, o autor mostra um profundo conhecimento da biodiversidade do Cerrado, citando em seus textos uma quantidade inacreditável de animais, pássaros, árvores e frutos típicos daquele bioma.
A diversidade deixa com inveja profissionais ligados às ciências agrárias. No reino vegetal são citadas as seguintes árvores e frutas: murici, pau-santo, embaúba, marmelinho, camboatã, braúna, açoita-cavalo, mulungu, jequitibá, pau-doce, pacari, maria-preta, tingui, gameleira, pau-d’alho, assa-peixe, tamboril, jacarandá, cambuí, paineira, cagaiteira, jenipapo, cumaru, gabiroba, etc.
A lista é espantosa, principalmente para brasileiros residentes em grandes cidades, acostumados a conviver com palmeiras-imperiais caribenhas em suas ruas, praças e jardins.
No reino animal, a lista é ainda mais rica, e os personagens de J. Guimarães Rosa convivem rotineiramente com capivaras, jararacas-verdes, sucuris, jacarés, jacaré-de-cabeça-azulada, tatus-bola, tatus-canastra, queixadas, cágados, onças, onças-pardas, iraras, tamanduás, jararacuçu, caxinguelês, lobos-guará. O elenco de pássaros é também enorme: aparecem socós, socós-boi, saracuras, nhambus, garças-rosa, urutaus, guaxos, frangos-d’agua, garrixas, juritis, pássaros-preto, bem-te-vis, sabiás-pardos, almas-de-gato, patos-bravos, irerês, marrecos de gravata, tiês-pitanga, suindaras, jacus, codornas, perdizes, patativos-borrageiros, pica-paus-de-cabeça-vermelha, gaturanos, tico-ticos, etc.
O gaturano, tão podido miúdo, azulzinho no sol, tirintintim, com brilhamentos, mel de melhor-maquinazinha de ser de bem-cantar…
Em Sagarana, pág. 282, o autor descreve em um parágrafo, quatro tipos de formigas, e na pág. 301, ele apresenta sete tipos de cogumelos.
No caudaloso rio de vida animal e vegetal trazido à baila pelo autor em sua obra, as palmeiras ocupam lugar de destaque, e entre elas a favorita do autor parece ser o buriti, citado mais de 30 vezes em “Grande sertão: veredas”. Eis algumas delas:
“…de repente chegamos numa baixada toda avistada, felizinha de aprazível, com uma lagoa muito correta, rodeada de buritizal dos mais altos: buriti-verde que afina e esveste, belimbeleza.”(GRANDE SERTÃO: VEREDAS, pag. 42).
“Buritis, altas corbelhas. Aí os buritis iam em filas, coroados de embaralhados ângulos.”(NOITES DO SERTÃO, pag. 112).
“O buriti-grande, um pau real, na campina, represando os azuis e verdes.” (NOITES DO SERTÃO, pag. 117).
“O buriti ia para os céus, inventando um abismo.” (NOITES DO SERTÃO, pag. 126).
“E o buritizal: renques, aleias, arruados de buritis que avançam pelo atoleiro, frondosos, flexuosos, abanando flabelos, espontando espiques; de todas as alturas e de todas as idades, famílias inteiras, muito unidas: buritis velhuscos, de palmas contorcionadas, buritis senhoras, e tocando ventarolas, buritis-meninos.” (SAGARANA, pag. 278).
Apesar da profunda veneração de Guimarães Rosa pelos buritis, em Cordisburgo, MG, a prefeitura local houve por bem plantar várias palmeiras-imperiais caribenhas nas cercanias da casa onde o autor nasceu em 27 de junho de 1908. Trata-se de um exemplo típico do que o dramaturgo Nelson Rodrigues chamava de “narcisismo às avessas”, mal este que, segundo o mesmo autor, aflige boa parte dos brasileiros.
A buritirana ( Mauritiella armata ) é citada em “Grande sertão: veredas” à página 29:
“Com medo de mãe-cobra, se vê muito bicho retardar ponderado, paz de hora de poder água beber, esses escondidos atrás das touceiras de buritiranas”.
A macaúba ( Acrocomia aculeata ) aparece na mesma obra, na página 138:
“Em horas, andávamos pelos matos, vendo o fim do sol nas palmas dos tantos coqueiros macaúbas, e caçando, cortando palmito e tirando mel da abelha-de-poucas-flores, que arma sua cera cor-de-rosa”.
Em “Grande sertão: veredas”, pag. 57, o autor cita uma palmeira sem lhe dar o nome, conforme o texto abaixo:
“Era por esconso por uma palmeira – duma de nome que não sei, de certa altura, mas regrossa, e com cheias palmas, reviradas para cima e depois para baixo, até pousar no chão com as pontas. Todas as palmas tão lisas, tão juntas, fechavam um coberto, remedando choupã de índio”.
Pela descrição da planta, e sua ocorrência geográfica, trata-se da palmeira “Syagrus Flexuosa”, que tem vários nomes populares, como acumã, coqueiro do campo, etc.
Ainda em “Grande sertão: veredas”, o autor cita à página 74, a carnaúba (Copernicia prunifera), palmeira típica do Nordeste do Brasil, caracterizada pela cera que produz, usada na fabricação de velas, cosméticos, ceras para polimento de veículos, etc.
Em Sagarana, num pequeno verso na página 110, o autor introduz o coqueiro ouricuri, ou licuri (Syagrus coronata):
Eu vou ralando o coco
Ralando até aqui
Eu vou ralando o coco
Morena,
O coco, do Ouricuri.
Ouricuri (Syagrus coronata)

Ouricuri (Syagrus coronata)


Na mesma obra, à página 188, Guimarães Rosa apresenta a palmeira catolé:
“Ei, e Cassiano rastejou, recuando, e, dando três vezes o lanço, transpôs as abertas entre a criciúma e a guaxima, entre a guaxima e o rancho, e entre o rancho e o gordo coqueiro catolé”.
Pelo nome popular e a ocorrência geográfica, a palmácea descrita é a Attalea Compta, cuja ocorrência se estende por quase todo o Cerrado mineiro.
Mais na frente, no mesmo livro, à pagina 193, aparece mais uma espécie de palmeira:“Indaiás nanicas, quase sem caules, abrindo as verdes palmas …”
Pela ocorrência geográfica e a descrição da planta, trata-se de uma Attalea geraensis, conhecida como “indaiá-do-cerrado” ,muito comum naquele ambiente.
Finalmente em “Primeiras Estórias”, o conto “Darandina” descreve a confusão gerada em uma cidade não identificada quando um gatuno acuado por várias pessoas resolve subir numa palmeira-real da praça, instalando-se em seu topo por várias horas. Lá de cima, atira suas roupas e, após ameaçar se matar se fossem tirá-lo lá do alto, resolve se entregar e desce, nu, com os bombeiros, gritando ”viva a luta”, “viva a liberdade”. No chão, ovacionado, a multidão levou-o carregado, em festa, pela cidade.
BIBLIOGRAFIA
Manuelzão e Miguilim. 11ª edição. Editora Nova Fronteira.
Primeiras estórias. 1ª edição especial. Editora Nova Fronteira.
Sagarana. 71ª edição. Editora Nova Fronteira.
Grande sertão: veredas. 17ª edição. Editora Nova Fronteira.
Noites do Sertão. 6ª edição. Livraria José Olympio.

Açafrão da cozinha a farmácia

O dia passava ao largo e a caminhada pela chapada não terminava nunca. Aquilo era um sem fim de catação de plantas, miudezas aqui e acolá. O oco do mundo se abriu no meio de minha barriga e deu-se de barulhar de forma extremada, chamando atenção até mesmo de Chico da Mata, que caminhava incansável e atento ao meu lado. Ele se riu de minha zoada estomacal e acabou por dar fim a nossa empreita de buscação de plantas medicinais encomendadas por seus parentes moradores na longínqua capital.

açafrão (Crocus sativus)

açafrão (Crocus sativus)


Apesar do peso do saco carregado de plantas, meu alento era chegar à casa do Chico o mais rapidamente possível, pois sabia que D. Lindaura tinha um almoço no capricho e farturento esperando por nós por riba do fogão a lenha. Já chegando, resolvi atalhar atravessando a cerca, mas tropecei e o arame farpado me rasgou o braço direito de forma considerável. Depois de avaliar o estrago, enrolei minha camisa ao ferimento buscando estancar o sangue e rumei em direção a bica no quintal da casa, lavando a ferida com a água gelada, que aos poucos deixou de sangrar. Chico chegou resmungando “tu fica descabeciado com fome, num vê nem arame farpado na frente…”
Ganhei a cozinha na esperança de almoçar logo, mas Dona Linda me conduziu até uma cadeira e deu de polvilhar delicadamente Açafrão (Curcuma longa) em pó por sobre a ferida. Estranhei o procedimento e comentei que sempre soube das propriedades culinárias dessa planta, mas na medicina nunca a havia experimentado. Enquanto me enrolava o braço com uma faixa, foi soltando sua experiência: “pois ele é bão com força para cicatrizar essas feridas brabas. Mas tamém se dô muito com o Çafrão quando o causo é de espirro e escorrimento de nariz. Tomo um tiquim do pó na água, dispois fervo mais um tantim, espero esfriar e pingo no nariz muitas veis no dia. É bão dimais!
Como sempre, o almoço estava delicioso e me fartei com as delícias de Dona Linda. Voltei para casa e buscando mais informações sobre a utilidade do Açafrão, confirmei suas propriedades cicatrizantes e antialergênica das vias respiratórias. Ele tem ainda grande atividade antinflamatória semelhante a fenil-butazona, atuando também na diminuição da acidez gástrica, neutralizando o ph estomacal e agindo como imuno estimulante e hepatoprotetor, além de auxiliar na regulagem do metabolismo. Estes benefícios têm a ver com o poder antioxidante da curcumina, que é o pigmento de cor amarelo ouro. Mas o que mais me surpreendeu foi ler que na Índia, seu país de origem, a incidência de câncer em todo trato digestivo é insignificante por ele ser largamente utilizado.
A dica é utilizar meia colher de chá por dia no preparo do arroz, de grãos, na sopa, no molho da salada ou polvilhando diretamente sobre a comida. Aqui em casa o Açafrão agora saiu da cozinha e ganhou espaço na farmácia. Até a próxima lua!

Causo de cura

Do interior do Brasil sempre avistamos histórias que o povo conta, alguns causos suscitam duvidas, porem, nos permite e refletir sobre como é boa uma prosa boa, de ouvir e contar:
Com a chegada do inverno, os campos cerradeiros deram de secar, mostrando em meio a macega suas flores azuis, carmins, amarelas, violáceas e brancas de uma alvura discomparada. Pois foi nesse tempo soprador, quando o vento arriba as sais e seca o capim, que fui ver e ouvir a sabedoria de Maria do Céu em seu canto de moradia. Encravada no meio do sertão, a casa simples envarandada acolhe a todos amorosamente.
Assim que a porteira chiou, a cachorrada deu sinal e a Maria do Céu saiu da cozinha estampando no rosto um sorriso e os braços abertos, que me rodeou num abraço acolhedor. Enquanto demos de colocar as notícias em dia, ela generosamente deitou na mesa guloseimas e quitandas acompanhando de um café coado na horinha. Esparramado na cadeira ao lado do fogão à lenha, atentei para a figura esguia da anfitriã, com sua cabeleira prateada e olhar compassivo. Num tardou a prosa caminhar pro lado de fora da casa, onde a seca iniciava presença e dava necessidade de reparo. Mas da boca de Maria não se ouve queixas e sim palavras de gratidão por cada movimento da vida.

Capim São José, (Cymbopogon densiflorum).

Capim São José, (Cymbopogon densiflorum).


Ela deu de falar das belezuras deste tempo e acabamos ganhando o mundo de fora na buscação dos cachos florais do Capim São José, (Cymbopogon densiflorum). Num dilatou muito e se demos com várias touceiras logo alinzinho, beirando um carrasco pedregoso de terra ruim. Suas varas finas enfeitadas de flores e sementes no final do pendão eram colhidas com desenvoltura por ela, enquanto discorria sobre sua serventia e aplicação. Munido de um saco, fui acomodando os cachos e ouvindo:
__ Deusde menina, nesse tempo nóis colhe essa lindeza de planta. Ela tem uma doçura de cheiro que entra devagarinho no nariz da gente… num é coisa de muito não, só cadinho que vai encantando aos tiquim. Carece de apertar ela nas mão para sentir mais de com força. Notras roças chama ele de Capim Nagô e inté de Capim Encana Osso. Nos tempos de minha mãe sempre tinha uns cacho dele dentro de casa, pois quando caia a chuva e montava o trovejo, ela jogava um bocado desses pendão no fogo. Sem tardança os raios diminuía e o céu se acarmava…
Ainda não consegui comprovar essa informação, mas descobri que o chá de seu pendão floral também acalma e induz ao sono, alem de cuidar das afecções catarrais, as tosses rebeldes e a rouquidão. Quando o caso é de contusão ou pancada, os banhos e compressas no local atingido aliviam as dores e recupera os tecidos lesionados. Favorece ainda a função renal, diminuindo as águas do corpo e desinchando os pés. Por aqui os fiéis o levam para a Procissão de Ramos em busca de bênçãos e proteção, mas devido a sua origem africana também é utilizado nos rituais da umbanda. O perfume de seus cachos atualmente é aplicado na preparação de um incenso encantador. Inté a próxima lua!

Gosto, gostoso da mangaba

A mangabeira é uma árvore de porte médio, com altura variando de 4 a 7 m, podendo chegar até 15 m, de crescimento lento, copa ampla, às vezes mais ramificada que alta. O tronco é geralmente único, tortuoso ou reto, com 0,2 a 0,3 m de diâmetro. Os ramos são inclinados, numerosos, separados e bem formados. Os ramos jovens são de coloração violácea, lisos até um ano de idade, meio angulosos, curtos, com poucas folhas, floríferos no ápice. Caule rugoso e áspero com duas a três bifurcações na altura média de 40 a 50 cm da base. Toda a planta exsuda látex de cor branca ou róseo-pálida. Em território nacional é possível encontrar, além de uma rica fauna cheia de espécies, uma flora extremamente diversificada. Uma árvore chamada mangabeira dá um fruto muito delicioso e benéfico para a saúde: a mangaba. Mas é a própria planta que é excelente nos casos de doenças mais graves, sendo muito conhecida pela sua enorme ajuda no combate à pressão alta, quando administrada corretamente e acompanhada por um médico.

Mangaba (Hancornia speciosa)

Mangaba (Hancornia speciosa)


A mangaba e suas curiosidades
• É também chamada de mangaba-ovo;
• Pode ser matéria prima na fabricação de sucos, sorvetes, doces e bebida vinosa;
• Sergipe é o maior produtor de mangaba no Brasil;
• Os índios nomearam a planta de “mangabeira” e consequentemente as frutas de mangaba;
• O látex da árvore é utilizado para confeccionar uma borracha rosada;
• Mesmo sendo nativa do Brasil, a mangaba pode ser encontrada em boas condições no Paraguai e leste do Peru;
• Quando o interesse é para tratamentos medicinais, é a casca da árvore da mangaba quem é vendida em pedaços nas lojinhas de produtos naturais;
• É mais fácil a ocorrência da planta no cerrado, caatinga e litoral do Nordeste.
O fruto do tipo baga é elipsoidal ou arredondado de 2,5 a 6,0 cm, podendo ocorrer vários tamanhos na mesma planta, exocarpo amarelo com manchas ou estrias avermelhadas, polpa de sabor bastante suave, doce, carnoso-viscosa, ácida, contendo geralmente de duas a 15 ou até 30 sementes chatas de 7 a 8 mm de diâmetro, castanho-claras e rugosas.
Na região do Cerrado, observa-se, de uma maneira geral, uma safra de frutos por ano, que ocorre de outubro a dezembro e apenas alguns frutos temporões fora dessa época. Em Minas Gerais, a mangabeira floresce de setembro a novembro e frutifica de dezembro a janeiro.

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